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O Tempo Pascal



A celebração da Páscoa engloba a morte e a ressurreição do Senhor, melhor ainda, a morte, que é passagem para a ressurreição. Não se admira, por isso, que, no início, sobretudo, a palavra Páscoa pudesse ter dito tanto da morte como da ressurreição.


Assim, tempo houve em que o que hoje chamamos Semana Santa foi chamado semana da Páscoa, a semana em que “Cristo, nossa Páscoa, foi imolado”. Hoje damos o nome de Tempo da Páscoa ou Tempo Pascal (é esse precisamente o nome oficial) aos 50 dias que vão do Domingo da Ressurreição (na origem, da Eucaristia da Vigília) até o Domingo do Pentecostes. Mas foi todo este espaço de 50 dias que recebeu, no início, a designação de Pentecostes, ou Cinquentena, como a palavra significa, a Cinquentena da alegria pascal, latíssimo patim. Esse espaço de alegria é, na realidade, uma grande oitava de domingos, envolvendo sete semanas, e terminando, de novo, com o domingo, tal como cada semana começa com o Dia do Senhor e vai, de novo, encontrá-lo no oitavo dia. Mas o Calendário Romano vai mais longe e diz que “os cinquenta dias que vão do domingo da Ressurreição ao domingo de Pentecostes se celebram na alegria e no júbilo, como um único dia de festa, mais ainda como “um grande domingo”, citando nesta última expressão uma palavra de Santo Atanásio.


O Tempo Pascal nasce da Vigília; aí se faz a passagem do luto à alegria, do jejum ao banquete, da tristeza à festa, da morte à vida. Tempo de alegria, de ação de graças, de aprofundamento do sentido do mistério cristão e da vida em Cristo, do mistério da Igreja e consequentemente do mistério da comunidade dos cristãos, o Tempo Pascal é o tempo espiritual, por excelência, do ano litúrgico. É o tempo em que o Ressuscitado dá o Espírito: “Recebei o Espírito Santo”, e que se conclui precisamente com a efusão do Espírito Santo sobre os discípulos, que, uma vez “cheios do Espírito Santo”, aparecem no mundo como a “Igreja de Deus” da “Nova Aliança”. Cristo ressuscitado, “Primogênito dentre os mortos”, é, por isso mesmo, “Cabeça do Corpo da Igreja” (Cl 1,12ss). De fato, na Páscoa “unem-se o céu e a terra, o divino e o humano”. O Tempo Pascal precisa ser redescoberto. A reforma litúrgica não parece ter levado às últimas consequências o que, nos princípios, dele afirmou! Mas recuperou a sua unidade e o ritmo dos seus oito domingos, todos eles agora claramente chamados Domingos da Páscoa.


Vida Pascal

A vida cristã é uma Vida Pascal, porque é vida dos que foram sepultados com Cristo, no Batismo, para viverem, com Ele, uma vida nova, como se exprime o presidente da assembleia, na Vigília, antes da renovação das promessas do Batismo. Essa vida nova é a vida de Cristo ressuscitado, a vida d’Aquele que, por ter oferecido a vida até Se entregar à morte, vive agora na glória do Pai, exaltado com o nome divino de Senhor (Fl 2,11). Vida com Cristo em Deus, é ainda, sobre a Terra, uma vida escondida, vivida na fé e na esperança, vivificada pelo Espírito, que é Amor. Vida nova, porque vida do homem novo, que é o Senhor ressuscitado, ela anima toda a existência cristã e exprime-se em tudo o que é vitória sobre o pecado e a morte. Essa novidade de vida em Cristo é uma das notas mais postas em realce nos textos da liturgia do Tempo da Páscoa.


Como já foi referido, a Páscoa é celebrada, no dizer de Santo Agostinho, como um mistério, de maneira sacramental, não tanto como uma história que se evoca, mas como um mistério tornado presente de maneira sacramental para nele se poder participar. É assim que, na Vigília, ocupa lugar central a celebração dos sacramentos da iniciação cristã: Batismo, Confirmação e Eucaristia, os sacramentos da vida nova. Por meio desses sacramentos nascem os novos filhos de Deus. Eles são a humanidade nova, que a liturgia saúda como “crianças recém-nascidas”, “cordeiros recém-nascidos”, “nova prole da Igreja, multidão renovada”. Em cada ano e em todo o mundo, muitos são os que, na noite da Páscoa, nascem como nova geração do povo de Deus.


São Paulo, partindo da sugestão fornecida pelo pão ázimo próprio da Páscoa judaica, pede aos seus leitores que, purificados do fermento velho, sejam uma nova massa, para celebrarem a festa pascal. E a liturgia pede que, na Páscoa, todos os sinais, dos mais importantes aos mais simples, sejam a partir de elementos novos: a água e os santos óleos para o Batismo; o pão para a Eucaristia, para que não venha a ser necessário recorrer ao pão consagrado guardado no sacrário desde antes do Tríduo Pascal; a luz que há de acender o Círio e iluminar a celebração durante a noite de Vigília; a ornamentação do altar, que foi desnudado antes da celebração; e, mais que tudo, “o coração, as vozes e as obras”: seja tudo novo, para que, “renovados pelo vosso Espírito, ressuscitemos para a luz da vida” como pede a coleta do Domingo da Ressurreição.


Anualmente repetida em cada primeiro Domingo que se segue à Lua cheia do equinócio da primavera europeia e asiática, a Páscoa surge sempre nova, como sempre nova é a vida imortal do Senhor ressuscitado. E aquela Lua, que enche sempre de claridade a noite santa da Páscoa, continua a ser, em cada ano e desde há tantos séculos, dessa solenidade da vida nova, a “testemunha fiel no firmamento” (SI 88,38).


Autor: Dom Washington Cruz

Arcebispo de Goiânia (GO)

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