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O SIGNIFICADO DE BÊNÇÃO NA BÍBLIA


Bênção, de maneira geral, é a expressão de um desejo benigno proferida oralmente para uma pessoa, grupo ou mesmo um objeto, e que, através da própria expressão, é concretizado. Isso significa que, ao mesmo tempo que a Bênção é pronunciada, a ação de Bênção se materializa. Para isso, pressupõe um efeito no mundo espiritual, de modo a afetar o mundo físico, fazendo com que o desejo se cumpra.


O radical de Bênção e as outras palavras que derivam dele, ou com ele estão relacionados, é o verbo latino benedico, benedicere, que em seu sentido correto significa "dizer, falar bem", e também "abençoar", e igualmente "louve e elogie uma pessoa ou coisa". As Bênçãos têm um papel proeminente nas crenças populares de muitos povos, bem como em seus mitos e lendas. Em particular, a Bênção que um pai ou uma mãe aborda para seus filhos é de grande importância para a prosperidade deles.


NO ANTIGO TESTAMENTO

No Antigo Testamento foi usado a termo hebraico Berekhah para se referir a Bênção, este termo vem da raiz Barakeh, Beirakheh e que significa algo como “Bênção”, “fonte de bem/Bênção”, “prosperidade”, “louvor de Deus”, “presente” e “acordo de paz”. Tudo isso é usado com o sentido de obter uma concessão de alguma coisa material ou espiritual.


O termo Barak significa "dotar de um poder benéfico", e aparece em muitas passagens bíblicas se referindo à concessão de bem (Dt 11,26; Pv 10,22; Is 19,24) e muitas vezes contrastando com a maldição (Gn 27,12; Dt 11,26-28; 23,5; 28,2; 33,23). Esse termo também é utilizado para se referir a uma fórmula de palavras que invoca coisas boas, e que constitui propriamente uma “Bênção” (Gn 27,36; Dt 33:1). Este significado abrange tanto o processo de "dotar de um poder benéfico", como a condição de ser dotado, capacitado por Deus. Sendo assim, o abençoar, originalmente, significava uma força benéfica que é transmitida a uma pessoa e que contrasta com o poder destrutivo de amaldiçoar.


Seguindo esse sentido, fica mais fácil entender a importância da Bênção para o primogênito e, portanto, tudo o que Jacó fez com sua mãe Rebeca para enganar seu pai cego, Isaac, afim de obter dele a Bênção paterna, que Isaac desejava dar ao primogênito, Esaú. A Bênção diz: “Deus te conceda orvalho do céu, fertilidade da terra, abundância de trigo e vinho. Que os povos te sirvam e as nações te prestem vassalagem. Sê o senhor de teus irmãos; que te prestem vassalagem os filhos de tua mãe. Maldito quem te amaldiçoar, bendito quem te abençoar!” (Gn 27,28-29). A Bênção inclui tocar e transmitir sua unção, bem como falar bem dele para Deus.


Neste mesmo sentido a Bênção de Abraão “Farei de ti um grande povo, te abençoarei, tornarei famoso teu nome, que servirá de Bênção” (Gn 12,2), por parte de Deus, significa que ele seria uma grande nação, que seu nome seria engrandecido e que Abraão deveria abençoar assim como a ele foi abençoado. Esta abundância e esse bem-estar são os que os hebreus chamam de paz, e muitas vezes as duas palavras estão associadas, mas, enquanto ambas evocam a mesma plenitude da riqueza, a riqueza essencial da Bênção é a da vida e da fertilidade. Seu símbolo privilegiado é a água (Gn 49,25; Eclo 39,22); A própria água é uma Bênção essencial, indispensável (Ez 34,26; Mal 3,10); Por causa da sua origem celestial evoca, ao mesmo tempo, seu poder vivificante, a vida que alimenta, a generosidade e a gratuidade de Deus.


Só Deus dá a Bênção (Gn 27,28-29), pois toda Bênção vem de Deus (Gn 49,25s), e a Bênção divina domina toda a criação, e dela depende, inclusive, a fertilidade do homem, dos animais e do campo. Assim a Bênção de Deus, na antiga aliança, se manifesta na vida quotidiana do povo, chegando a todas as áreas como a vitória em batalhas contra inimigos, longa vida, riqueza, um grande número de descendentes, fertilidade da terra, etc., (Dt 28, 3-6). Pois a promessa de Bênção dada a Israel por Deus, é parte da sua aliança com o povo escolhido. Esta Bênção dependia de que Israel cumprisse os deveres implícitos na aliança: servir a Deus sozinho e guardar os Seus mandamentos.


Se o povo de Israel agisse de forma diferente, isso traria a maldição. E o mais importante, que esta decisão estava nas mãos do próprio povo: “Vê! Hoje ponho diante de vós Bênção e maldição: a Bênção, se atacardes os mandamentos do Senhor vosso Deus que hoje vos ordeno; a maldição, se não atacardes os mandamentos do Senhor vosso Deus e vos desviardes do caminho que hoje vos indico, indo atrás de deuses estrangeiros que não tínheis conhecido“ (Dt 11, 26-28), aqui Deus coloca um desafio a liberdade do homem: não como objeto imediato de eleição, mas como consequência divinamente garantida de sua conduta. Ao escolher um objeto, uma ação o homem escolhe as consequências destes.


Na história sagrada aparece um paradoxo singular, onde muitas vezes os fracos abençoam o poderoso como no livro de Jó (Jó 29,13) nos salmos; (Sl 72,13-16) e no Eclesiástico (Eclo 4,5) e até o homem se atreve a abençoar a Deus. Embora o pobre homem não tenha nada para dar ao homem rico nem nada para oferecer a Deus, no entanto, a Bênção estabelece entre os dois uma corrente vital e recíproca, o que faz com que o menor veja a generosidade transbordante sobre si, dos poderosos, assim também não é um absurdo abençoar o Deus que está acima de todas as Bênçãos (Ne 9,5).


A Sagrada Escritura revela que a Bênção divina é uma manifestação específica e perfeitamente reconhecível do favor dos céus, incluindo coisas como a chuva (Ez 34,26), a paz (Sl 29,11), a riqueza (Pv 10,22), e outras tantas Bênçãos que os céus tem concedido. O tema da Bênção permeia todo o Antigo Testamento, especialmente o livro de Gênesis, onde geralmente se contrapõe ao tema da maldição.


A ideia de Bênção como a provisão divina de cuidar do mundo muda nas histórias patriarcais (Gn 12-36), sendo aliada à ideia de promessa, a promessa feita a Abraão. O capítulo 12 do livro do Génesis junta duas ideias teológicas diferentes: Bênção e promessa. O ato libertador de Deus faz da promessa da salvação o centro; e a Bênção constante de Deus torna-se, também, o centro. Desse ponto de vista, a promessa de Bênção é incluída na história da promessa. Portanto, a união destes dois temas apresenta a ideia maior e mais globalizante que atinge a vida humana, não apenas numa dimensão material (prosperidade), mas também numa perspectiva espiritual (promessa-salvação).


Por conseguinte, o Deus que salva é o mesmo que abençoa, concedendo fertilidade às pessoas, ao campo e ao rebanho, sendo que o poder da Bênção é o de proteger, garantir e defender o seu povo. Assim para os judeus a obediência era o caminho para a Bênção e o culto era um lugar em que a Bênção de Deus podia ser transmitida às pessoas pelos sacerdotes. O culto é o lugar da Bênção que renova a promessa, a aliança e a lei, por isso o culto não é autêntico senão for vivenciado na aliança e na fidelidade a lei


NO NOVO TESTAMENTO

O termo, Berakah é a dinâmica da espiritualidade do Antigo e do Novo Testamento. Ela consiste em uma atitude de admiração, agradecimento e louvor da benevolência de Deus que cuida sempre de todas as suas criaturas. A palavra é traduzida no grego cristão como Eulogia. No latim, como Benedictio e Gratiarum actio, e no português como “Bênção”, “ação de graças”, "falar bem”, “louvar”, “celebrar", “gratidão”, “invocação de Bênção”, “consagração”, “benefício”.


No Novo Testamento, os conceitos da Antiga Aliança são mantidos e enriquecidos com o caráter cristológico, espiritual e escatológico. Jesus abençoou as criancinhas (Mc 10,16; Mt 19,13-15), os discípulos (Lc 24,50), os sinais que Ele mesmo efetuou (Mc 6,41; 8,7), e ensinou a responder com uma Bênção às maldições que jogarem sobre o homem, e também ensinou que a Bênção definitiva é a eterna felicidade dos seus escolhidos, a ressurreição e a vida eterna (Mt 25,34-41; 1Pe 3,9).


Nos evangelhos é possível encontrar uma Bênção dirigida a Jesus. E é quando o grito da multidão se dirige a Jesus, ao entrar em Jerusalém, na véspera da paixão: “Hosana ao filho de Davi! Bendito aquele que vem em nome do Senhor” (Mt 21,9). Logicamente o Ser mais bendito e abençoado é Jesus, no qual todo o esplendor do poder e da bondade de Deus se manifestam de tal forma, que com sua chegada ao mundo, é reconhecido por Isabel (Lc 1,42); por Zacarias (Lc 1,68); por Simeão (Lc 2,28); pela própria Maria de forma indireta (Lc 1,46).


Pedro sumariza a missão de Jesus Cristo (At 3,26), pois, para ele as Bênçãos que vêm de Jesus não são os bens terrenos como no Antigo Testamento, mas a sua graça, os favores e bens espirituais, neste mesmo sentido Paulo acrescenta: "Bendito seja o Deus, Pai de nosso Senhor Jesus Cristo, o qual, por meio de Cristo, nos abençoou com todo tipo de Bênção espirituais do céu" (Ef 1,3).


Para Pedro toda a humanidade é chamada a ser canal de Deus para abençoar. Pois quando se abençoa, se é qualificado para receber Bênçãos: “...ao contrário, bendizei, pois para isto fostes chamados: para herdar uma Bênção” (1Pe 3,9), aqui o ideal é a concórdia de toda a comunidade cristã, pois todos, como irmãos de uma grande família, partilham uma herança comum, uma Bênção.


Com a vinda de Jesus, aqueles que pertencem a Deus ainda são abençoados em Cristo. Suas Bênçãos incluem a Bênção do perdão (Rm 4,7-9); a capacidade de acreditar sem ver (Jo 20,29); e as muitas Bênçãos sobre os mártires (Ap 14,13; 16,15; 19,9; 22,7,14). Todas essas Bênçãos estão intimamente ligadas à obra de Jesus. É Jesus que, através de sua vida, morte e ressurreição, permite aos judeus e aos gentios herdar as Bênçãos prometidas por meio de Abraão. Portanto, as Bênçãos do Antigo Testamento ainda estão disponíveis, ainda que de forma escatológica em Jesus Cristo, pois agora há uma nação maior, uma terra maior e maiores Benções no reino dos céus.


A tradição de impor as mãos para transmitir as Bençoes é mantida no Novo Testamento, assim Jesus por exemplo abençoa as crianças: “Acariciava-as e as abençoava, pondo a mãos sobre elas” (Mc 10,16). Também é usado no ato de consagrar alguém para determinado serviço, ministério ou cargo. Antes de enviarem Barnabé e Paulo para o campo missionário os apóstolos impuseram as mãos sobre eles: “Jejuaram, oraram e, impondo-lhes as mãos, os despediram” (At 13,3).


Os dois movimentos da Bênção, a graça descendente e a ação de graças crescente são recapituladas em Jesus Cristo. Não há nada além dessa Bênção, e a multidão dos eleitos se reuniu diante do trono e diante do cordeiro para cantar seu triunfo final, proclamar a Deus: "Bênção e glória, saber e ação de graças, honra e força e poder ao nosso Deus pelos séculos dos séculos. Amém! " (Ap 7,12).


CONCLUSÃO

A história do povo de Israel é uma história de Bênção que começa com a promessa dada Abraão, libertação da escravidão do Egito com Moisés, a posse da terra prometida com Josué, a conquista de novas terras com os Reis, a perda do conquistado e finalmente a promessa de um novo Rei e Messias que traria a reconstrução do reino que continua em Jesus Cristo, fruto bendito do ventre de Maria, que veio para estabelecer o reino definitivo dos céus.


Em síntese o termo Bênção possui dois significados importantes; um herdado dor termo hebraico Berakah que é usado para “transferir poder ou favor de Deus pelo toque”; e o termo grego Eulogeo que é traduzido como “Falar bem de alguém”. Portanto, juntando esses dois significados ou conceitos dos termos hebraico e grego, é fácil perceber a profundidade do significado da palavra Bênção que inclui "falar" e "transferir poder" ou favor de Deus o que se manifesta na prosperidade, na proteção, etc.


O particípio Baruk “Bendito” é o substantivo mais forte das palavras de Bênção. Constitui o centro da fórmula típica da Bênção israelita: "Bendita seja N ..." Esta fórmula brota como um grito diante de uma pessoa, em que Deus acaba de revelar seu poder e generosidade, e que escolheu "entre os humanos": como exemplo está: "Bendita entre as mulheres é Jael" (Jz 5,24); "Bendito Aser entre todos, o favorito dos irmãos” (Dt 33,24); Maria “Bendita és tu entre as mulheres e bendito o fruto do teu ventre” (Lc 1,42; em referência com Jd 13,18).


Dessas proezas surge uma admiração ao ver o que Deus pode fazer pelos escolhidos. Ser abençoado no mundo é uma revelação de Deus, portanto, pertence a ele por um título especial, a pessoa passa a ser o "abençoado de Deus". A diferença dos santos que ao serem consagrados são separados do mundo profano, a Bênção, ao contrário, converte o ser designado por Deus, num ponto de união e fonte de irradiação. Tanto os santos como os abençoados pertencem a Deus; mas o santo revela sua grandeza inacessível; O bem-aventurado, por outro lado, sua generosidade inesgotável.


Ao longo da história bíblica a Bênção tem sido usada em quatro tipos de situações; Primeiro: quando Deus abençoa seu povo; Segundo: quando o povo abençoa seu Deus com louvor; Terceiro: quando Deus ou seu povo abençoam alguma coisa como a terra, as casas, os lugares sagrados, etc; Quarto: quando um filho de Deus abençoa uma outra pessoa, seguindo o exemplo de Jesus.


Bibliografia Consultada

1 – A Bíblia do Peregrino.

2 – Chave Bíblica.

3 – Harris, R. Laird, Dicionário Internacional de Teologia do Antigo Testamento.

4 – Smith, Ralph L., Teologia do Antigo Testamento.

5 – Gonzáles, Justo L. Diccinario Manual Teológico,

6 – Comentario al Nuevo Testamento, William Barclay. 1999 por CLIE para la versión española. Publicado originalmente en 1970 y actualizado en 1991 por The Saint Andrew Press, Escocia.

Autor: Elías Nova Nova

Diplomado em Teologia – Faculdade Jesuíta de Filosofia e Teologia – FAJE | Belo Horizonte, Brasil (2002)


Licenciatura Plena em Filosofia e Letras – Universidade de Santo Tomás de Aquino | Bogotá, Colômbia (1996)

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