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Compreensão e celebração


Na liturgia a Igreja vive o mistério do nascimento de Jesus, desde o início do Advento, como preparação, e na solenidade do Natal, como celebração alegre, que se prolonga até a festa do Batismo do Senhor. O mistério da encarnação nunca será plenamente compreendido à luz da razão e somente à luz da fé será devidamente celebrado. A relação entre razão e fé tem se estabelecido, ontem e hoje, como conflito, antagonismo, equilíbrio, de conformidade com a linha de pensamento das pessoas. Quem acredita no Deus da revelação segue a linha do equilíbrio entre razão e fé. Por entender que a razão humana não tem a explicação para fenômenos que ultrapassam a sua capacidade de compreensão, a pessoa conta com a graça da fé em sua adesão aos mistérios revelados por Deus.


Um texto de São Máximo, um abade do séc. VII, refere-se ao nascimento de Jesus como “O Mistério sempre novo”, visto com o olhar da razão e da fé. “O Verbo de Deus nasceu segundo a carne uma vez por todas. (...) Assim, o Verbo de Deus revela-se sempre a nós do modo que nos convém, e contudo ninguém pode conhecê-lo perfeitamente, por causa da imensidade de seu mistério. (...) Nasce o Cristo, Deus que se faz homem, assumindo um corpo dotado de uma alma racional, ele por quem tudo que existe saiu do nada. No Oriente brilha uma estrela visível em pleno dia e conduz os magos ao lugar onde está deitado o Verbo feito homem, para demonstrar misticamente que o Verbo, contido na lei e nos profetas, supera o conhecimento sensível e conduz as nações à plena luz do conhecimento. (...) Deus se fez homem perfeito, sem que nada lhe faltasse do que é próprio da natureza humana, à exceção do pecado (o qual, aliás, não era inerente à natureza humana). (...) O grande mistério da encarnação de Deus permanecerá sempre um mistério! Como pode o Verbo que está em pessoa e essencialmente na carne existir ao mesmo tempo em pessoa e essencialmente junto do Pai? Como pode o Verbo, totalmente Deus por natureza, fazer-se totalmente homem por natureza, sem detrimento algum das duas naturezas, nem da divina, na qual é Deus nem da humana, na qual se fez homem? Só a fé pode alcançar esses mistérios, ela que é precisamente a substância e o fundamento das realidades que ultrapassam toda inteligência e compreensão”.


Jesus, a segunda Pessoa da Santíssima Trindade, “se faz homem”, “homem perfeito”, “totalmente Deus por natureza”, “totalmente homem por natureza”. O abade acima referido deixa bem claro que a razão humana tem seus limites para compreender o mistério da encarnação de Jesus “que nasceu da virgem Maria”. Fiel ao ensinamento da Igreja Católica, afirma que “Só a fé pode alcançar esses mistérios”. Apesar de ensinada pelo Catecismo da Igreja, nem sempre é lembrada essa verdade explicitada por São Máximo - o estado de graça em que foram criados o homem e a mulher; como ensina o Gênesis, “E Deus criou o ser humano à sua imagem, à imagem de Deus ele o criou, macho e fêmea os criou” (Gn 1, 27). Sendo perfeito, Deus não poderia criar imperfeito o ser que é sua imagem e semelhança. A imperfeição humana surgiu com o desvio de conduta de Adão e Eva que redundou no pecado que “aliás, não era inerente à natureza humana”, como ensina São Máximo.


No calendário litúrgico, encerrado o Tempo de Natal, começa o Tempo Comum que se estende até a terça-feira antes da Quarta-feira de Cinzas, início da Quaresma. Assim, ao longo do Ano Litúrgico, os cristãos passam da compreensão do mistério de Cristo, alcançada à luz da fé, a uma melhor participação na sua celebração.


Autor: Dom Genival Saraiva

Administrador Apostólico da arquidiocese da Paraíba

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